Capsulite Adesiva (Ombro Congelado): Causas, Sintomas e Tratamentos

O que é a Capsulite Adesiva?

A capsulite adesiva, também conhecida como “ombro congelado”, é uma condição caracterizada pela inflamação da cápsula articular do ombro, que é um tecido de colágeno que envolve a articulação. Esta inflamação leva ao espessamento e retração da cápsula, resultando em dor intensa e progressiva limitação dos movimentos do ombro.

O nome “ombro congelado” é bastante descritivo, pois o paciente sente como se a articulação estivesse literalmente congelada, com movimentos cada vez mais restritos. É uma condição que pode durar de meses a anos, sendo que a maioria dos pacientes se recupera em até dois anos, embora alguns possam apresentar algum grau de limitação permanente.

Comparação entre um ombro normal (esquerda) e um ombro com capsulite adesiva (direita), mostrando o espessamento da cápsula articular

Epidemiologia e Fatores de Risco

A capsulite adesiva é uma condição relativamente comum, afetando aproximadamente 2% da população geral. Ocorre mais frequentemente em pessoas entre 40 e 60 anos de idade, sendo ligeiramente mais prevalente em mulheres. Raramente acomete o mesmo ombro mais de uma vez, porém cerca de 20% dos pacientes podem desenvolver a condição no ombro contralateral.

Certos fatores aumentam o risco de desenvolver capsulite adesiva:

  • Diabetes mellitus: Pacientes diabéticos têm até 4 vezes mais chance de desenvolver a condição
  • Doenças da tireoide: Especialmente hipotireoidismo
  • Imobilização prolongada do ombro: Após cirurgias, traumas ou por outras razões
  • Doenças cardiovasculares
  • Doença de Parkinson
  • Discopatias cervicais
  • Histórico de trauma no ombro
  • Cirurgias prévias no ombro, mama ou tórax
  • Doenças autoimunes

Fases da Capsulite Adesiva

A capsulite adesiva tipicamente progride através de três fases distintas, cada uma com características próprias:

1. Fase Aguda ou Inflamatória

Duração: 3 a 9 meses

Características: Dor intensa e progressiva, especialmente à noite, podendo interferir no sono

Sintomas: Dor difusa no ombro que piora gradualmente, com dor aguda nos limites extremos de movimento

Impacto: Início da limitação dos movimentos, dificuldade nas atividades diárias, possível desenvolvimento de ansiedade devido à dor constante

2. Fase de Congelamento

Duração: 4 a 12 meses

Características: A dor começa a diminuir, mas a rigidez aumenta significativamente

Sintomas: Limitação progressiva de todos os movimentos do ombro, especialmente rotação interna (colocar a mão nas costas) e abdução (levantar o braço lateralmente)

Impacto: Dificuldade significativa em atividades como vestir-se, pentear o cabelo, alcançar objetos em prateleiras altas

3. Fase de Descongelamento

Duração: 5 a 24 meses

Características: Melhora gradual da amplitude de movimento

Sintomas: Diminuição da rigidez, retorno progressivo da mobilidade

Impacto: Recuperação gradual da capacidade de realizar atividades cotidianas

Sintomas da Capsulite Adesiva

Os sintomas da capsulite adesiva variam conforme a fase da doença, mas geralmente incluem:

  • Dor no ombro: Inicialmente difusa, localizada na região lateral e anterior do ombro, podendo irradiar para o braço
  • Dor noturna: Intensificação da dor durante a noite, especialmente ao deitar sobre o lado afetado
  • Rigidez progressiva: Sensação de que o ombro está “preso” ou “travado”
  • Limitação de movimentos: Dificuldade crescente para realizar movimentos como:
    • Rotação externa (girar o braço para fora)
    • Rotação interna (colocar a mão nas costas)
    • Abdução (levantar o braço lateralmente)
    • Flexão (levantar o braço para frente)
  • Compensação com a escápula: Movimento excessivo da escápula para compensar a limitação do ombro
  • Atrofia muscular: Em casos prolongados, pode ocorrer diminuição da massa muscular ao redor do ombro

A limitação de movimento segue um padrão característico, conhecido como “padrão capsular”, onde a rotação externa é o movimento mais comprometido, seguido pela abdução e rotação interna.

Paciente demonstrando limitação de movimento do ombro devido à capsulite adesiva

Diagnóstico

O diagnóstico da capsulite adesiva é primariamente clínico, baseado na história do paciente e no exame físico. No entanto, exames complementares podem ser necessários para excluir outras condições que apresentam sintomas semelhantes.

Avaliação Clínica

  • Anamnese detalhada: Histórico de dor, limitação progressiva de movimentos, fatores desencadeantes
  • Exame físico: Avaliação da amplitude de movimento ativa e passiva do ombro, com o padrão típico de limitação (rotação externa > abdução > rotação interna)

Exames Complementares

  • Radiografia (RX): Geralmente normal na capsulite adesiva, mas útil para excluir outras condições como artrose ou calcificações
  • Ressonância Magnética (RM): Pode mostrar alterações sutis como:
    • Espessamento do ligamento coracoumeral
    • Espessamento da cápsula articular
    • Infiltração gordurosa do intervalo dos rotadores
    • Edema pericapsular glenoumeral
  • Ultrassonografia: Pode identificar espessamento da cápsula articular e alterações no intervalo rotador
  • Artroscopia: Raramente necessária para diagnóstico, mas pode ser utilizada como parte do tratamento

Diagnóstico Diferencial

É importante diferenciar a capsulite adesiva de outras condições que podem apresentar sintomas semelhantes:

  • Lesão do manguito rotador
  • Tendinite calcárea
  • Artrose glenoumeral
  • Artrite inflamatória
  • Bursite subacromial
  • Instabilidade do ombro
  • Radiculopatia cervical

Tratamento da Capsulite Adesiva

O tratamento da capsulite adesiva varia de acordo com a fase da doença e a intensidade dos sintomas. O objetivo principal é aliviar a dor, melhorar a amplitude de movimento e restaurar a função do ombro.

1. Tratamento Conservador

Medicamentos

  • Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Reduzem a dor e a inflamação
  • Analgésicos: Para controle da dor, especialmente à noite
  • Corticosteroides orais: Em casos selecionados, para reduzir a inflamação aguda

Fisioterapia

A abordagem fisioterapêutica varia conforme a fase da doença:

  • Fase aguda: Foco em analgesia e técnicas de relaxamento
  • Fase de congelamento: Exercícios de alongamento suave e mobilização articular
  • Fase de descongelamento: Fortalecimento muscular e recuperação funcional

Técnicas fisioterapêuticas que podem ser utilizadas:

  • Mobilização articular
  • Alongamento da cápsula posterior
  • Exercícios pendulares (Codman)
  • Técnicas de facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP)
  • Terapia manual
  • Eletroterapia para analgesia (TENS)
  • Termoterapia (calor ou frio)

2. Procedimentos Intervencionistas

Infiltração Articular com Corticosteroides

  • Mais eficaz na fase inicial (inflamatória)
  • Pode ser realizada no consultório sob anestesia local
  • Reduz significativamente a dor e pode acelerar a recuperação
  • Geralmente limitada a 2-3 aplicações devido aos potenciais efeitos colaterais

Hidrodilatação

  • Injeção de grande volume de solução (soro fisiológico, anestésico local e corticoide) na articulação
  • Visa distender a cápsula articular e romper aderências
  • Realizada sob orientação de ultrassom ou fluoroscopia

Manipulação sob Anestesia

  • Indicada na fase de congelamento quando não há resposta ao tratamento conservador
  • Realizada em centro cirúrgico sob sedação ou anestesia geral
  • O médico manipula o ombro para romper aderências e aumentar a amplitude de movimento
  • Deve ser seguida de fisioterapia intensiva

3. Tratamento Cirúrgico

Liberação Artroscópica

  • Indicada quando não há melhora após 6-12 meses de tratamento conservador
  • Procedimento minimamente invasivo que permite:
    • Liberação da cápsula articular contraída
    • Remoção de aderências
    • Liberação do intervalo rotador e ligamento coracoumeral
    • Tratamento de condições associadas (como lesões do manguito rotador)
  • Requer programa de reabilitação pós-operatória intensivo

Opções de Tratamento para a Capsulite Adesiva

Comparação dos Tratamentos

TratamentoFase IdealVantagensDesvantagens
MedicamentosTodas as fasesFácil administração, alívio da dorEfeitos colaterais, não trata a causa
FisioterapiaTodas as fasesNão invasiva, melhora funçãoResultados lentos, requer adesão
InfiltraçãoFase inflamatóriaRápido alívio da dorEfeito temporário, limitação de aplicações
ManipulaçãoFase de congelamentoGanho rápido de amplitudeRiscos da anestesia, possíveis lesões
ArtroscopiaCasos refratáriosTratamento definitivoInvasiva, riscos cirúrgicos, recuperação

Reabilitação e Prognóstico

Programa de Reabilitação

A reabilitação é fundamental para o sucesso do tratamento da capsulite adesiva, independentemente da abordagem terapêutica escolhida:

Fase Inicial (0-4 semanas)

  • Controle da dor e inflamação
  • Exercícios pendulares e de amplitude de movimento passiva
  • Mobilização articular suave
  • Orientações posturais e ergonômicas

Fase Intermediária (4-12 semanas)

  • Aumento progressivo da amplitude de movimento
  • Alongamentos mais intensos da cápsula articular
  • Início do fortalecimento isométrico
  • Técnicas de mobilização mais avançadas

Fase Avançada (após 12 semanas)

  • Fortalecimento progressivo dos músculos do ombro e da escápula
  • Exercícios funcionais específicos para as atividades do paciente
  • Treinamento proprioceptivo
  • Retorno gradual às atividades habituais

Prognóstico

O prognóstico da capsulite adesiva é geralmente favorável, embora o curso da doença possa ser longo:

  • A maioria dos pacientes apresenta resolução completa ou quase completa dos sintomas em 1-3 anos
  • Aproximadamente 10-15% dos pacientes podem apresentar algum grau de limitação residual permanente
  • Fatores associados a pior prognóstico incluem:
    • Diabetes mellitus
    • Duração prolongada dos sintomas antes do início do tratamento
    • Rigidez severa na apresentação inicial
    • Idade avançada
  • A recorrência no mesmo ombro é rara (menos de 5%)
  • Cerca de 20% dos pacientes podem desenvolver a condição no ombro contralateral

Prevenção e Autocuidado

Medidas Preventivas

Embora nem sempre seja possível prevenir a capsulite adesiva, algumas medidas podem reduzir o risco ou minimizar a gravidade:

  • Mobilização precoce: Após lesões, cirurgias ou condições que requeiram imobilização do ombro
  • Controle adequado de doenças associadas: Especialmente diabetes e doenças da tireoide
  • Exercícios regulares: Manutenção da mobilidade e força do ombro
  • Postura adequada: Evitar posições que sobrecarreguem a articulação do ombro

Autocuidado

Para pacientes com capsulite adesiva, algumas recomendações de autocuidado incluem:

  • Aplicação de calor: Antes dos exercícios para relaxar a musculatura
  • Aplicação de frio: Após atividades ou exercícios para reduzir a inflamação
  • Exercícios domiciliares: Seguir o programa de exercícios recomendado pelo fisioterapeuta
  • Adaptações nas atividades diárias: Modificar temporariamente a forma de realizar tarefas para reduzir a sobrecarga no ombro
  • Controle do estresse: A dor crônica pode gerar ansiedade e estresse, que por sua vez podem piorar a percepção da dor

Quando Procurar Ajuda Médica

É importante consultar um ortopedista especialista em ombro se você apresentar:

  • Dor persistente no ombro por mais de duas semanas
  • Rigidez progressiva e limitação dos movimentos do ombro
  • Dor noturna que interfere no sono
  • Incapacidade de realizar atividades cotidianas devido à dor ou limitação do ombro
  • Sintomas que não melhoram com medidas simples como repouso e analgésicos

O diagnóstico e tratamento precoces podem reduzir a duração e a gravidade da capsulite adesiva, melhorando significativamente a qualidade de vida do paciente.

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Perguntas Frequentes

A capsulite adesiva tem cura?

Sim, a maioria dos pacientes apresenta resolução completa ou quase completa dos sintomas, embora o processo possa ser longo (1-3 anos). Uma pequena porcentagem pode apresentar alguma limitação residual.

Posso desenvolver capsulite adesiva nos dois ombros?

Sim, aproximadamente 20% dos pacientes podem desenvolver a condição no ombro contralateral, geralmente de forma sequencial e não simultânea.

A fisioterapia é dolorosa para quem tem ombro congelado?

A fisioterapia deve ser adaptada à fase da doença. Na fase aguda, o foco é no controle da dor, com exercícios suaves. À medida que a condição progride, os exercícios podem se tornar mais intensos, mas sempre respeitando o limite de dor tolerável pelo paciente.

Exercícios físicos podem prevenir a capsulite adesiva?

Exercícios regulares que mantêm a mobilidade e a força do ombro podem reduzir o risco, especialmente em pessoas com fatores predisponentes como diabetes ou após períodos de imobilização.

Quanto tempo dura o tratamento com infiltração de corticoide?

O alívio da dor após a infiltração geralmente ocorre em poucos dias e pode durar semanas a meses. Em alguns casos, uma única infiltração é suficiente, enquanto outros pacientes podem necessitar de 2-3 aplicações.

A cirurgia é sempre necessária para tratar o ombro congelado?

Não, a maioria dos casos responde bem ao tratamento conservador (medicamentos, fisioterapia, infiltrações). A cirurgia é reservada para casos que não apresentam melhora após 6-12 meses de tratamento adequado.

Este conteúdo foi desenvolvido pelo Dr. Rodrigo Calil, ortopedista especialista em ombro, cotovelo e joelho. As informações contidas nesta página têm caráter informativo e não substituem a consulta médica presencial.

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